Urologia e a Medicina de “Arrancamentos”

A urologia precisa humanizar-se e entender que o melhor tratamento é, muitas vezes, não tratar

Decepcionado com os tratamentos que a urologia, pelo menos parte representante dela, delega aos seus utentes, escrevo este pequeno regalo a quem apetecer a leitura. A urologia é uma especialidade eminentemente cirúrgica e por isso há uma tendência de seus profissionais encaminharem os pacientes para alguma sorte de procedimento. Isto é uma conduta péssima, pois contrária o conceito fundamental da medicina; primum non nocere: se não pode curar, não prejudique. Ora, uma cirúrgia desnecessária é sempre prejudicial! Em 100% das vezes.

Bem, vou analisar a linha do tempo de um homem como paciente típico urológico. Primeiro, quando criança, ele chega ao médico que já o olha a procura de alguma fimose ou parafimose para arrancar-lhe fora o prepúcio (postectomia) e aí vai o lenga-lenga aos pais: “Vai evitar infecção no futuro, menos DSTs, HIV e etc”, mesmo que exista a pomadinha que pode remediar, curando a fimose, vamos fazer o arrancamento de um tecido que tem uma função sexual para o adulto: o prepúcio.

Mais tarde, o jovem queixa-se de umas veias dilatadas no escroto, o plexo pampiniforme. Umas varizes conhecidas como varicocele. Esta doença pode, raramente, causar infertilidade e é extremamente comum, chegando a acometer 30% dos homens. Na maioria dos casos, quando necessário, opera-se apenas o lado afetado com microcirúrgia e corante azul de metileno. Infelizmente, os urologistas operam isto como quem dá murros em saco de pancadas: sempre o máximo possível de pacientes e dos dos lados, a cirúrgia de varicocelectomia bilateral que cursa com outra doença, a hidrocele. Um procedimentos que, ao contrário do que dizem alguns médicos, como no MD Saúde: “A cirurgia aberta é um procedimento simples, normalmente realizado com anestesia geral (em alguns casos com anestesia local). Dura 45 minutos e o paciente costuma ter alta no dia seguinte.)“, é muito delicado, pois é feito em estruturas finas como vasos e linfáticos. Ele ainda adiciona que a cirúrgia aberta é, por suposto, melhor que a laparóscopica, o que é um disparate “É uma técnica menos usada, pois possui tempo operatório maior e alta hospitalar costuma demorar 48 horas. A única vantagem é uma incisão menor“. A cirurgia aberta pode destruir os vasos linfáticos do testículo causando uma deformidade horrível chamada Hidrocele em até 29% dos casos! A desculpa dos cirurgiões é: “se você não operar, ficará infértil”, o que é uma verdade beeem forçada.

Bem, depois de operar a varicocele bilateral (sem necessidade), o homem descobre que está com hidrocele idiopática (por erro médico), uns 5 anos depois (o médico cortou os linfáticos que drenam o testículo), quando a raiva ja tem passado, ou seja, uma sequela da cirurgia feita sem necessidade por um médico ganancioso. Ele poderia ter operado só o lado afetado, mas para “aproveitar a anesteria e fazer caixinha”, foi nos dois e o seu “ovo” (do paciente) encontrar-se-á do tamanho de uma toranja . Agora ele vai, lá beirando os 30, para uma hidrocelectomia, um procedimento doloroso para tratar o seu testículo gigante. Aqui, deixo um adendo: qual a lógica de uma cirúrgia para corrigir outra? Os ilustres urologistas fiquem com a questão. Mas deixo outra: o pós-operatório da hidrocelectomia é bastante doloroso, ao contrário da cirúrgia de varicocele. A hidrocele é associada às más condições de saneamento, filariose, mosquitos tropicais, pobreza e descaso. É uma tragédia social que pode privar o homem de uma vida sexual plena em idade reprodutiva, devido a baixa-autoestima que causa.

Depois da varicocele, da hidrocele (causada pela cirurgia de varicocele), ele vai, lá pelos 40 anos, atrás de outra cirurgia: a vasectomia, e tome-lhe arrancamentos. Os mesmos médicos que estavam “preocupados” com a fertilidade do cliente, agora estão preocupados em oferecer a infertilidade. Vai entender… E vem outro problema a dor crônica pós-vasectomia, que pode afetar 30% dos pacientes. Evidentemente que, com os canais deferentes bloqueados, aqueles espermatozóides terão de ir para algum lugar e acabarão gerando uma rejeição que cursará com dor. Felizmente, esta dor é moderada.

Depois da fimose, varicorele, hidrocele, vasectomia e, talvez, uma hérnia inguinal, uma cirirgua de peyronie (pra corrigir pênis torto), vem mais um problema: lá pelos 50, com a próstata crescida, precisará de uma Ressecção Transuretral da Próstata, uma RTU, e lá se vai mais uma internação. Claro, isso pode ser resolvido com medicação, mas é melhor remover parte do tecido prostático para a urina passar. Óbvio, pode-se embolizar a próstata que atrofia e seca, curando o homem, mas arrancamento é o “melhor”. Esse procedimento não é isento de riscos, contudo, pode causar ejaculação retrógrada.

Quando chega lá pelos 60 anos, este homem clientelizado pela urologia, já tem feito fimose, varicocele, hidrocele, vasectomia, RTU e agora vai para uma cirúrgia de arrancamento de próstata: a prostatectomia para cura do câncer. Este é o maior arrancamento. Vai tudo fora. Próstata, vesículas seminais e, no fim, uma anastomose entre a próstata e a bexiga: o médico literalmente liga a base do pênis na bexiga, isto para evitar escapes de urinas. E acredite-me não é das coisas mais bonitas de se ver. Poderia fazer crioablação de pequenos tumores, mas para quê se um arrancamento é melhor?

Como ficou impotente devido a ablação da próstata e dos nervos e músculos, o médico chega com uma solução mágica: uma prótese peniana. Agora o homem com 65 anos é um cyborg: passou por fiomse, varicocele, hidrocele, vasectomia, RTU, prostatectomia e agora um implante peniano invasivo para conseguir uma ereção. Veja que maravilha de cliente: 65 anos servindo bem para servir sempre.

Com este texto, não quero demover da urologia seu papel de curar, tratar e amenizar o sofrimento de muitos homens que padecem de doenças reais que requerem tratamento (fimoses reais, varicoceles de grau 3 com micro-cirurgia, cânceres reais, tratamento da hidrocele com procedimento minimamente invasivo, cálculos renais dolorosos e intratáveis). Quero que a urologia alcance a primazia e o humanismo máximo de tratar os pacientes com a verdade e o melhor e menos nocivo ou, apenas deixar como está, já que muitas condições não requerem tratamento. Quero o fim das “caixinhas” para “aproveitar a anestesia” a aumenta o faturamento: se eu chego num médico com uma doneça, não quero sair de lá com três cirurgias!!! Isso é o cúmulo da vigarice.

Sabemos que o público masculino é pouco exigente e aceita muitos destes procedimentos invasivos, perpetuando este ciclo de dor e trauma. Mas um despertar para o conhecimento, questionamentos, riscos e benefícios dos tratamentos, é imprescíndivel. O médico também precisa de fornecer documentação (deve), sobre os riscos dos procedimentos que realiza. Como no caso da matéria posta no MD Saúde, os riscos da cirúrgia de Varicocele são, até a presenta data, não publicados por lá. São coisas que não podem mais ocorrer e o cliente tem de exigir conhecer os riscos reais de tudo. Não aceite tratamento cirúrgico milagroso e sem riscos porque, infelizmente, não há.

Fontes:
Varicocele: sintomas, causas e tratamento, https://www.mdsaude.com/urologia/varicocele/
Concepções sobre o princípio da não maleficência e suas relações com a prudência, https://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/717

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